Transcrição: [Vinheta]
Agora: ONCB Entrevista. A Rádio ONCB dá voz a convidados especiais. Assuntos diversos, inclusão e acessibilidade. ONCB Entrevista.
Gustavo Torniero: Rodrigo Souza é um professor de yoga que se especializou no ensino dessa prática para pessoas com deficiência e outras condições crônicas. Ele mora na Suécia, mas trouxe suas ideias e projetos também para o Brasil. Eu sou Gustavo Torniero e, agora, a gente conhece mais sobre o trabalho desenvolvido por ele aqui na Rádio ONCB. Rodrigo, seja bem-vindo. Você passou a se aprofundar no yoga depois que sofreu uma lesão na medula espinhal, em 2014. Quais são os pontos que você destacaria da sua trajetória desde aquele momento até chegar ao profissional e à pessoa que você é hoje?
Rodrigo Souza: Olá, Gustavo. Muito obrigado por me receber aqui. Sim, eu me aprofundei. Eu já praticava yoga antes do meu acidente. Eu pratiquei Bikram Yoga, Hot Yoga, por nove anos antes de me tornar paraplégico. Mas tive a graça de incorporar o yoga no meu processo de reabilitação, depois de sofrer essa queda, essa lesão medular, que me deixou paralisado do peito para baixo. Fiquei morando em um centro de reabilitação no sul da Suécia por três meses e meio.
Então, tive a oportunidade de fazer fisioterapia e yoga ao mesmo tempo. Voltei para a vida muito rápido, depois desse trauma que sofri. E, como voltei para a vida muito rápido, vi a necessidade de compartilhar, com pessoas que estavam vivenciando traumas e deficiências físicas, essas ferramentas — já que elas não são acessíveis para essa população. O yoga hoje, Gustavo, no mundo, não é acessível para pessoas com deficiência — que acho que são as que mais necessitam da prática.
Então, foi um presente do universo, um propósito de vida que me foi dado: trazer essa prática ao encontro daqueles que mais precisam, no meu ponto de vista.
Gustavo: Rodrigo, hoje você está envolvido em diversas iniciativas relacionadas ao Yoga Adaptado. E eu queria que você falasse sobre o projeto que você desenvolve aqui no Brasil.
Rodrigo: Sim, Gustavo. Eu sou completamente apaixonado pelo que faço e tenho desenvolvido muitos projetos simultaneamente. Um desses projetos é o Lhe Tenho Amor, aqui no Brasil, que a gente foca em conscientizar professores de yoga a facilitar a prática para essa população — ou seja, para pessoas com deficiência. E tirar o yoga um pouco dos estúdios e levá-lo para a comunidade. A gente educa professores para servir, por meio do yoga, em locais como CRAS, casas de idosos, APAEs, associações, centros comunitários.
Queremos ajudar as pessoas com deficiência a terem uma qualidade de vida melhor: saber respirar, saber habitar o próprio corpo, se movimentar de forma consciente — nutrindo, assim, uma sensação de amor-próprio, autocuidado, autocompaixão e aceitação da sua condição presente, que essa pessoa está experienciando. Ou seja, é um trabalho muito significativo.
Gustavo: Um trabalho, inclusive, que aproxima as pessoas com deficiência dessa prática, não é, Rodrigo?
Rodrigo: Sim. Tentamos usar sempre, Gustavo, o yoga como uma ferramenta de inclusão social, uma ferramenta de justiça social. Porque a pessoa com deficiência, hoje, não tem acesso a essas práticas de bem-estar. Na maioria das vezes, essa pessoa já é oprimida, já é marginalizada.
Então, ela tem muita coisa para adquirir antes de poder ter acesso a uma prática holística, de bem-estar. Para uma pessoa com deficiência, hoje, práticas de bem-estar são até consideradas um supérfluo, porque tem tanta coisa antes que ela precisa voltadas a acessibilidade, ao trabalho, a educação, que cuidar de si mesmo é algo que a pessoa não tem acesso. Ela não tem acesso a essa amorosidade consigo mesma.
Então a gente tenta trazer isso para ela. A gente tenta trazer isso para ela através da capacitação de professores e também oferecendo aulas. O projeto Lhe Tenho Amor tem o intuito de oferecer aulas gratuitas para pessoas com deficiência a partir do segundo semestre.
Gustavo: Com certeza, a gente precisa falar mais sobre acessibilidade em atividades de bem-estar e saúde. Pra finalizar, Rodrigo, como as pessoas podem conhecer mais sobre esse projeto que você desenvolve aqui no Brasil?
Rodrigo: Sim, Gustavo. Isso é muito pouco falado, muito pouco disseminado — esse amor ao bem-estar, à qualidade de vida para pessoas com deficiência. Hoje em dia, você não encontra um estúdio de yoga com acessibilidade estrutural voltada a servir essa população. Por exemplo, um estúdio de yoga acessível para usuários de cadeira de rodas, ou que tenha um profissional capacitado para facilitar uma prática para essa população.
Então, tem muito trabalho a ser feito. E o Lhe Tenho Amor é um projeto que tenta democratizar a prática do yoga e do bem-estar de forma mais equitativa, digamos assim. Porque todos nós temos o direito de habitar o nosso corpo de maneira mais amorosa, de nos autocuidar, de nos autoamar. E, o mais importante de tudo, de nos autoconhecer — porque a mudança vem daí.
Então, é isso. O projeto Lhe Tenho Amor está no Instagram: @lhe_tenho_amor. Espero que você comece a seguir a gente e participar das nossas atividades. Muito obrigado por me ter por aqui, Gustavo. Um grande abraço a todos vocês.
Gustavo: Esse foi o professor de yoga Rodrigo Souza. Ele contou sobre a sua trajetória e projetos para tornar o yoga mais acessível e próximo das pessoas com deficiência. Aqui falou Gustavo Torniero para a rádio ONCB, o som de todas as vozes.
[Vinheta]
Você ouviu ONCB Entrevista na Rádio que é o som de todas as vozes!